Um banho espiritual

O Secretário deste Capítulo é muito previdente e tenta que aproveitemos ao máximo o Capítulo, com a possibilidade de conhecermos também os arredores de Bien Hoa.
Ontem à tarde, convidados pelo bispo desta diocese, fomos celebrar com ele, à Catedral, juntamente com muitos cristãos que habitualmente lá celebram a sua fé.
A igreja construída em forma de cruz latina, estava cheia, e, como acontece em quase todas as missas, os dois anexos estavam igualmente cheios.
Ao entrar na Catedral fomos recebido com uma banda que tocou o hino do Vaticano! E depois a Missa foi celebrada de uma forma muito bonita, com a força das crianças e adolescentes que se tinham instalado nos braços laterais da igreja. Aprumados, atentos, respondiam e cantavam com uma voz firme e alegre. Um encanto vê-los.
Repetidamente se lembra que a história do cristianismo se escreveu com o sangue dos mártires. E é o que vamos sentido quando vemos uma igreja ou um grupo de cristãos de uma fraternidade dominicana. As bases não serão sólidas em termos de fé mas são, sem dúvida, fortes nas sua prática. São uma minoria no Vietnam. Mas uma minoria que ajuda a maioria. Não há paróquia ou fraternidade que não tenha uma acção concreta de ajuda aos mais pobres. O Bispo da diocese pediu ao Mestre da Ordem que fizesse a homilia e ele foi repetindo também uma frase que reforçava esta ideia: "Não ninguém tão pobre que não possa dar alguma coisa e não há ninguém tão rico que não possa receber alguma coisa".
No final da Missa, uma fotografia de grupo, e depois com as pessoas que nos acolheram, pela novidade dos hábitos brancos na cidade e pela rareza das nossas raças. Aqui Portugal não é muito conhecido. Os trunfos são só dois: o CR7 e Nossa Senhora de Fátima; quase sempre se ouve o som de espanto deles: ohhhhhhhhh.... O dia terminou com um jantar oferecido pela diocese a todos nós, capitulares.
Hoje foi dia de passeio. Fomos, por grupos, visitar vários centros dominicanos: monjas, irmãs, fraternidades dominicanas, conventos dos frades, num total de onze grupos. O meu foi o de irmos visitar uma comunidade de irmãs dominicanas, verdadeiramente impressionante: são 102 as que vivem no convento e têm 100 postulantes... e não, não há erro nos zeros. Impressionante o acolhimento que nos fizeram (aqui a qualidade do almoço vê-se pelo número de pratos confeccionados: ontem 40 e hoje 27, quase obrigando-nos a ter de provar de tudo!) e a missão que têm junto das crianças que educam e dos pobres que tratam (mais uma vez uma minoria que ajuda uma maioria...). De lá fomos visitar o noviciado desta província do Vietnam, que fica num santuário de São Martinho de Lima. Os noviços são 14, e o resto um mundo... Para termos ideia, no dia de são Martinho, na missa principal, juntam-se mais de 6000 pessoas (sem erros de zeros!). Oportunidade para rever os noviços e tirar a fotografia prometida porque pensavam que os mestres de noviços eram todos mais velhos.
E de lá nova e última paragem num "mosteiro" das nossas monjas dominicanas. Não sei com coubemos lá. Estão com "dificuldades" em construir um mosterio a sério. Neste mosteiro, esconso, vivem 17 irmãs e três noviças, e não têm espaço para mais. A casa divide-se numa parte de dormitórios, a capela e depois espaços abertos que se fecham de acordo com as necessidades, já seja de trabalho (fazem hóstias e bordam toalhas de baptismo) já seja para reuniões ou encontros como o nosso. Aqui a variedade foi de frutas, como se pode ver pela fotografia. Uma coisa interessante é que aqui, mesmo que haja a tendência de nos sentarmos todos juntos, naturalmente nos misturamos, o que torna tudo mais família. Ao chegar, levaram-nos à capela (uns tiveram que ficar no pátio) e aí cantámos dois cânticos, um a Nossa Senhora e um a São Domingos.
Toda esta narrativa para quê? Para dizer que, a um ocidental, que tem tudo garantido e facilitado, faria bem ser minoria durante algum tempo para relativizar muitas coisas e dar importância a outras que vamos deixando para trás, como por exemplo, responder e cantar na Missa como o fizeram de uma maneira tão brava os miúdos de ontem.
Um banho espiritual que me fez bem, pedindo a Deus que estas oportunidades que me vai dando, não caiam em saco roto. Não foi por acaso que viemos ao Vietnam. Digo-o como Ordem mas também o digo em termos pessoais. Alguma coisa me pedirá Deus em troca desta oportunidade. Quando? Quando ele quiser. Como me dizia um frade: Se queres por Deus a rir à gargalhada conta-lhe os teus planos.
Nesta noite só me resta agradecer a Deus ter querido que pertencesse a esta Ordem. Não por mérito meu mas para sua glória.

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