Tratactus

Tratactus é uma palavra latina que significa à letra “investigação”. Nós, dominicanos, usamos esta palavra para a conversa que podemos ter antes da eleição de um superior. No caso do Mestre da Ordem é obrigatório e, como já disse, passa por várias fases. Hoje foi a última delas. Depois de termos celebrado a Missa em Vietnamita (uma liturgia de excelência em que os 84 estudantes participaram com as suas músicas e tons tão característicos) e do pequeno almoço, procedemos, então, ao tratactus. Primeiro aviso: não se deve falar de nada do que se passa no tratactus nem com as pessoas que não fazem parte do Capítulo nem através dos meios sociais (explicitaram o Facebook, Twitter, Instagram e por aí fora). Por isso, não poderei falar do que se falou mas posso falar do que se passa, que é simples. Há uma lista final de candidatos e pergunta-se à Assembleia se algum Capitular quer acrescentar algum nome. Essa proposta deve ter o suporte de mais irmãos. Depois escutamos cada um dos que poderão vir a ser Mestres da Ordem. Começam por se apresentar e por nos dizerem que prioridades e necessidades vêm para a Ordem. Depois há a possibilidade de questionarmos o candidato e, depois disto ele sai para que possamos falar dele. E este processo repete-se para cada um.
É sempre um momento em que a verdade e a humildade tem que sobressair. E em alguns casos sobressai. E isto edifica-me. O não desejar o cargo, o mostrar dificuldades pessoais e às vezes até uma exposição de algo mais íntimo, o justificar o porquê de não aceitar o cargo leva-me aos inícios da Ordem, a começar pelo próprio São Domingos que logo no segundo Capítulo Geral pediu para ser deposto, até ao dia de hoje. Não posso falar do que se falou lá mas posso contar um caso semelhante, agora público, do ano de 1983, que me faz acreditar na humildade e no amor que sentem pela Ordem. Em 1983 elegeram Albert Nolan, sul-americano, Mestre da Ordem. Depois da última votação, já eleito, pediu a palavra para dizer mais ou menos isto: Queridos irmãos, obrigado pela vossa confiança. Mas não posso aceitar o cargo. Para Mestres da Ordem há muitos irmãos que o possam fazer. Mas o que eu estou a fazer na África do Sul (aqueles tempos conturbados de transição política e social) só eu posso fazer. Por isso, peço que aceiteis o meu não. E toda a sala irrompeu em palmas, agradecendo a sua humildade e verdade.
São estes irmãos que engrandecem a Ordem e são exemplos como estes que nos ensinam que o mundo, a Igreja e mesmo nós, dominicanos, não precisamos de bons governantes mas sim de bons servidores da verdade e do bem comum. Muito me ensinam.

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