Dias do pai



Ontem foi dia do pai. E hoje o meu pai faria anos se fosse vivo. Tenho recordações muito antigas do meu pai: lembro-me de ele me levar às cavalitas, de estarmos os dois em casa enquanto a minha mãe trabalhava (de vez em quando os horários não coincidiam). Lembro-me de me perguntar se tinha muita fome ou pouca, lembro-me dos nossos pratos preferidos... Lembro-me de ir levar-me à escola no primeiro dia de aulas... isto tudo antes de nascer o meu irmão. Depois há quase um hiato em que não me lembro de quase nada. O meu pai mudou de emprego, foram mais frequentes os horários em que, quando ia para a escola estava o meu pai a chegar a casa ou o contrário. Depois, como saí cedo de casa (aos 19 anos), mais raramente estava com a minha família. E em vez das visitas a casa, começou a ser mais frequente ir vê-lo ao hospital, a estar mais presente nos jantares de domingo à noite. E uma terceira etapa começou quando o meu irmão também saiu de casa. Aí voltei quase à infância: mais proximidade, desabafos, conversas já de amigos, férias juntos... etapa esta que durou até ao seu funeral.
Não me lembro de oferecer coisas ao meu pai no dia do pai. Não sei se era normal nas escolas fazer-se alguma prenda para dar aos pais como agora. Lembro-me, sim, das prendas de anos, sobretudo já de adulto.
Não acho piada a celebração de dias separados. Devia haver um "dia dos pais" e não um dia só para o pai e um dia só para a mãe. O meu pai não era a mesma pessoa sem a minha mãe nem a minha mãe sem o meu pai. E nós, filhos, também não seriamos os mesmos sem o pai ou sem a mãe.
Num dia da semana passada, falava com um amigo meu sobre o ter saudades dos mortos. Eu não tenho. Não sei porquê. Já tinha pensado nisso antes e até já me tinha questionado se seria normal não se sentir saudades de quem se ama...
Recentemente li um livro de Agostinho da Silva e, numa passagem, li isto: "As saudades, sabe, eu não tenho saudades das pessoas de quem gosto, pois estão sempre comigo, como é que vou ter saudades delas? Mesmo que estejam a muita distância. De maneira que essa coisa da saudade para mim não existe (...) Saudades seria alimentar uma ausência, mas eu nunca estou ausente de lá, eles nunca estão ausentes de mim, como é que vou ter saudades?" Acho que estou de acordo.
(este marcador foi-me dado ontem, na Missa do Colégio de São José - Ramalhão)


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