O novo Mestre da Ordem


Fr. Bruno Cadoré, de 56 anos, provincial da Província de França, foi eleito, esta manhã, o 86º sucessor de São Domingos. Foi uma eleição longa, ao contrário do que se esperava. Como sempre, na nossa tradição, a eleição começou com a tradicional Missa do Espírito Santo, presidida pelo ex-Mestre da Ordem, fr. Timothy Radcliffe. Presidiu e pregou. Para agradecer a fr. Carlos o seu trabalho e a sua entrega à Ordem e para nos dizer que o Mestre da Ordem, como qualquer dominicano, deve pregar com autoridade e alegria. Disse também que, neste momento, precisamos de um Mestre da Ordem que nos ajude a caminhar na Verdade, que nos transmita esperança e que tenha alegria, uma característica tão própria dos Dominicanos.
Depois da Missa e de um pequeno-almoço apressado, fomos para a Sala Capitular onde começou o ritual da eleição do Mestre da Ordem. Tudo em latim, cânticos, leituras, salmos, promessas do presidente e dos escrutinadores, começámos, então, a votar o novo MO. Devo dizer que é uma experiência única. A mim, que me enervam de sobre maneira as eleições, este foi um momento tenso, mas dos mais ricos na minha vida dominicana. Não sou muito espiritual nestas coisas mas, escolher quem nos governe bem, só mesmo com a ajuda do Espírito Santo.
Depois de eleito - ele estava pálido e emocionado - fizeram-lhe, em latim, a pergunta ritual: "Aceitas o oficio de MO"? Não é uma resposta clara porque se pode dizer não; mas ele respondeu, com voz fraca: "Aceito, com a ajuda de Deus".
E começou a emoção. De repente, sem qualquer sinal, levantámo-nos a aplaudi-lo; o ex-Mestre da Ordem ajoelhou-se diante dele e beijou-lhe as mãos; ele levantou-o e abraçou-o e, impuseram-lhe a capa e o capuz negro e, antes de seguir o ritual da profissão de fé, pediu para nos falar. Para nos agradecer a confiança e pedir, como no dia da sua profissão, a misericórdia de Deus e a dos irmãos. Depois disto, foi enviado ao Papa um fax a comunicar-lhe que elegemos a fr. Bruno. Não se trata nem de uma autorização nem confirmação. É mesmo só comunicar. É um privilégio dos Dominicanos, já do tempo de São Domingo, graças ao seu desejo de ter uma Ordem democrárica e que, da democracia nasce a obediência. Por isso, um Capítulo Geral é a autoridade suprema da Ordem. Inclusivamente se conta da vida de São Domingos que obedecia às determinações dos Capítulos Gerais, mesmo não estando de acordo com algumas decisões.
Voltando à Sala Capitular, fomos em procissão ordenada até à igreja, a cantar o Te Deum (um cântico de louvor a Deus) e a ladainha dos Santos. Quando chegou, prostrou-se diante dos irmãos, e o provincial da província mais antiga da Ordem (a de Espanha) fez uma oração sobre ele. Depois terminámos o rito com o cântico O Spem miram (que ouvi pela primeira vez!) e demos, cada um, um abraço ao Mestre da Ordem, como é da nossa tradição. Quando o abracei disse-lhe duas coisas em francês (algumas frases ainda me vão saindo...): que estava feliz com a sua eleição e que ia rezar por ele. Respondeu-me: "obrigado, irmão".
A parte da tarde foi passada em Santa Sabina, a nossa Cúria Geral. Aí tirámos a fotografia oficial do Capítulo. Depois, em grupos linguísticos, visitámos a basílica de Santa Sabina, a cela de São Domingos, o claustro, o convento e a bela capela de São Pio V. Terminámos com a oração de Vésperas, em Latim!, que mais parecia um funeral, presidida pelo novo MO e depois um jantar volante no simples mas agradável jardim do Convento, com uma das melhores vistas sobre Roma, em especial sobre o Vaticano.
Amanhã retomamos o trabalho suspenso de fazer as Actas do Capítulo. Mas isso é só amanhã.
Afinal, embora não tenha o dom da adivinhação nem da profecia, estava certo: foi eleito o mais humilde e, como já tinha dito antes, é o que está à frente do meu quarto.

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