São João Macias e os Irmãos cooperadores

Nós, dominicanos, celebramos, hoje, a festa de São João Macias. Nascido em Badajoz (Espanha), no ano de 1585, e que, por ter ficado órfão aos quatro anos, decidiu ir para o Novo Mundo (Peru), onde se fez dominicano como irmão cooperador.
É sobre este tema que gostaria de deixar alguma coisa escrita. Na Missa de hoje, aqui no Capítulo, pregou o provincial do Peru, terra de São João Macias. Com muita serenidade - elogiei-o por isso - falou do valor e do exemplo da vida deste irmão cooperador não só para os cooperadores mas para todos os dominicanos.
De facto, entre nós, há uma distinção entre irmãos clérigos e irmãos cooperadores. É fácil de entender: os irmãos clérigos são aqueles que se ordenam e os cooperadores são os que não se ordenam. Mas é uma distinção ministerial. Ou pelo menos deveria ser. O que nos une a nós, dominicanos, é a profissão. Cooperadores ou não, somos todos irmãos. Antes do Concílio Vaticano II a diferença era grande; a mais visível era a do hábito, como se pode ver nesta imagem de São João Macias: o escapulário e o capuz eram pretos enquanto que o dos clérigos era branco.
Na semana passada, o ex-Mestre da Ordem, ao falar dos Irmãos Cooperadores, problema que temos vindo a tratar nos últimos capítulos (sobre o seu papel e missão na Ordem como cooperadores no ministério da pregação), dizia que o problema não estava nos Irmãos cooperadores mas sim nos Irmãos clérigos. E hoje, com muita alegria, aprovámos um texto em que se pediu um encontro internacional de Irmãos cooperadores, para que a Ordem valorize este trabalho dos irmãos, às vezes simples e discreto como o de São João Macias.
A Ordem Dominicana apresenta, portanto, na sua longa lista de santos e santas, intelectuais, professores, priores, artistas e também irmãos cooperadores, que mantêm um trabalho discreto, na comunidade ou fora dela, de caridade para com os mais desfavorecidos e mais atentos às necessidades dos irmãos.
Neste dia quero aqui lembrar os três Irmãos cooperadores que a Província de Portugal tem. Um deles está em Angola, músico, muito dedicado às Missões e ao quotidiano da vida comum. Os outros dois estão no meu convento: um na portaria, como são Martinho de Lima ou São João Macias, e o outro, depois de muitos anos entregue à economia do Convento (cerca de trinta anos), dedica-se agora ao arranjo do claustro e dos outros espaços verdes do convento.
Talvez só quando não os tivermos entre nós é que lhes daremos o verdadeiro valor. Ainda assim, estou de acordo com o que aqui se disse sobre os Irmãos clérigos: temos que ter um processo de desclericalização para podermos aceitar e assumir os outros nossos irmãos como verdadeiros cooperadores na missão da pregação.
A São João Macias peço, para mim e para quem precisar, o dom da humildade e de perceber que a grandeza de uma vida está no valor que damos às pequenas coisas do quotidiano.

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