Tractatus

Os dias de ontem e o de hoje têm sido de alguma seriedade. Como se pode ler na crónica diária quer do Capítulo General (http://curia.op.org/roma2010/) quer da Província Portuguesa (http://www.dominicanos.com.pt/), o assunto tem sido o próximo Mestre da Ordem (MO). E, como são só candidatos, não devemos falar deles para fora dos grupos ou das sessões. Mas, enquanto ontem os candidatos mais falados (coincidentemente estão todos no Capítulo e não tivemos que chamar nenhum de fora) foram passando pelos grupos para se apresentarem e responderem a questões muito directas como por exemplo a reestruturação da Ordem, as missões e a tensão geracional, hoje o dia foi dedicado ao tractatus.
O que é um tractatus? É uma conversa sobre o irmão a eleger. Nas nossas leis (dominicanas), está previsto que, antes de qualquer eleição (de prior, provincial ou MO), os irmãos podem falar entre si sobre as necessidades e desafios da Ordem e sobre quem poderá ajudar na condução e resolução das mesmas. Esta conversa é livre, e tem duas partes: a primeira é a apresentação do ‘candidato’ e a resposta a algumas perguntas que se lhe possam fazer; numa segunda parte, pede-se ao irmão que saia da sala para que possamos falar dele. Esta manhã, e parte da tarde, foi destinada a isto mesmo: ouvirmos e falarmos sobre os sete irmãos que foram apontados. Não quer dizer que tenha que ser um destes. As nossas Constituições dizem que, para que possa ser eleito MO, tenha pelo menos trinta e cinco anos completos de idade (estou excluído!), e dez desde a primeira profissão, que seja sacerdote e que tenham passado três anos sobre a sua profissão solene. Por isso, qualquer irmão da Ordem, que tenha estes requisitos, pode ser eleito MO.
Mas não queria limitar este post a teorias sobre o MO. Quero dizer que qualquer um deles tem perfil, que a Ordem fica bem servida. É claro que todas as eleições têm também muito de humano... ninguém é perfeito. No fim desta passarela de candidatos, reduzo os meus critérios a este: elegerei o que me pareceu mais humilde. Uns têm discursos muito feitos, outros, humildemente, chegaram, apresentaram as suas virtudes e defeitos, mas houve um, que pouco falou, e que, quando lhe perguntaram – foi, aliás, a única pergunta – se se achava com forças para ser MO respondeu: “Não sei… talvez, com a ajuda dos irmãos”. É esse que vou eleger.
De resto, este tempo aqui tem-me feito bem. Abrir os horizontes, sair do provincianismo em que podemos cair quando caímos no buraco do nosso convento ou não saímos dos limites da nossa província. Tenho falado mais com os de língua espanhola porque o meu inglês e o meu francês não saem tão bem e tão rápido como esperava. Mas é bom ver que a Ordem cresce mesmo onde há poucas vocações. Aqui o que se tem dito algumas vezes é que ainda que a Ordem não cresça em quantidade pode sempre crescer em qualidade. Alegrar-se com as províncias numerosas, com muitos projectos e vocações e ser solidário com as que estão fragilizadas quer seja pela muita idade dos frades e ausência de vocações quer pelos problemas políticos ou outros que alguns sofrem.
Esta manhã o ainda Mestre da Ordem dizia que a participação num Capítulo Geral, sobretudo electivo, é das experiências mais belas e fecundas da vida dominicana. Creio que, apesar do cansaço de um capítulo e do peso desta instituição, todos chegamos a esta conclusão.
Termino este post com alguns números: no mundo, os dominicanos somos cerca de 6.500 frades; no Capítulo estamos 127 capitulares, representantes das 37 províncias, 2 vice-províncias e 10 vicariatos gerais. Disseram-me ontem que sou o segundo mais novo do Capítulo; o mais novo, de 31 anos, pertence à província da Eslováquia, onde já é Mestre de Estudantes.

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