Liturgia da festa de São Domingos - I

A vida de São Domingos pode ser explicada e estudada a partir de vários pontos de vista. Todas as abordagens são úteis para a espiritualidade dominicana, rica pela história e pelo seu carisma.
Uma delas pode ser a partir da liturgia da festa de São Domingos. Na liturgia a espiritualidade manifesta-se pela oração. Os hinos, antífonas e orações, que na liturgia se chama eucologia, são um bom contributo espiritual para a boa celebração da festa do fundador da Ordem dos Pregadores.
Na Igreja, a celebração dos santos faz-se no dia da sua morte (dies natalis) ou no mais próximo, se nesse dia não se puder celebrar.
Foi o que aconteceu com São Domingos, que morreu no dia 6 de Agosto do ano de 1221. Como nesse dia a Igreja celebra a festa da Transfiguração do Senhor, colocou-se a sua celebração para o dia 4 de Agosto que, na época, era o dia disponível mais perto do da sua morte. O Concílio Vaticano II, nos seus ajustes litúrgicos, e na reorganização do calendário litúrgico, mudou novamente o dia da celebração para o dia 8, que é o dia atual da sua celebração.
Há um elemento que está presente em toda a celebração litúrgica de São Domingos: a vida apostólica. Na verdade, a intuição de São Domingos foi a de viver, no século XIII a vida apostólica que encontrou nas fontes do Evangelho. Ele, um «humilde ministro da pregação», pregava o que vivia e vivia o que pregava.
E é assim que nos dá a entender o hino das primeiras vésperas da solenidade de São Domingos Te Patrem magnum colimus libentes (Nós vos louvamos com alegria, ó grande Pai). Ao longo das estrofes deste hino, de melodia simples – a véspera de uma solenidade está marcada pelo jejum, que também se observa na austeridade das melodias, vão glorificando a Deus pelo dom de São Domingos, que já o nome significava a sua vida (Domingos significa “Do Senhor”). Neste hino louva-se o seu carisma de sábio fundador, incansável pregador, fiel a Deus e à Esposa do Senhor (a Igreja) pela pobreza e castidade.
Do hino passa-se à salmodia. Cada antífona revela um dos momentos da vida e espiritualidade de São Domingos. A desta hora litúrgica fala sempre da pobreza, uma das características da vida de São Domingos. A primeira antífona, que antecede o salmo 95, fala-nos do sonho da mãe de São Domingos, em que são Domingos, arauto do evangelho, é prefigurado como um “fiel cão do Senhor, brilhando pela sua pobreza de vida”. No salmo canta-se a salvação e Deus anunciada no meio do povo.
A segunda antífona, que prepara o salmo 97, um salmo que canta a salvação universal por parte de Deus, diz-nos que São Domingos, vivendo uma vida pobre, defendeu o nome de Cristo e espalhou no mundo a semente da Palavra.
Por fim, na terceira antífona, que acompanha o cântico de São Paulo da carta aos Efésios (1, 3-10) a pobreza de São Domingos descreve-se na libertação das amarras do seu corpo (a morte como desprendimento do corpo) para poder saciar-se da água que sempre desejou.
A leitura breve é tirada da segunda Carta de São Paulo a Timóteo (4, 1-2), que São Domingos tão bem encarnou: “peço-te encarecidamente, que proclames a palavra, insiste em tempo propício e fora dele, convence, repreende, exorta com toda a compreensão e competência”.
A antífona do Magnificat recolhe uma das últimas frases de São Domingos, que mais não é que uma oração, antes da sua morte, e que vale a pena aqui deixar escrita, porque manifesta a sua solicitude para com os seus irmãos, como a de Jesus pelos seus discípulos no Jardim das Oliveiras: “São Domingos, erguendo as mãos ao céu, disse: Pai Santo, tu bem o sabes, foi de todo o coração que perseverei na tua vontade e que guardei e conservei os que me deste. Agora entrego-os a ti: conserva-os e guarda-os”.
Todas as horas litúrgicas terminam com a oração coleta da Missa, em que se pede que nós, seus filhos, cresçamos no humilde serviço da Verdade.
(imagem: Zurbarán, São Domingos de Gusmão)
Continua...



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